quinta-feira, 4 de abril de 2013

A vassoura que varreu a virtù


Sucedendo Juscelino Kubitschek, Jânio da Silva Quadros assumiu o governo graças ao seu importante papel na politica paulista. Com toda sua habilidade, demagogia e carisma, Jânio conquistou não só os votos da ala conservadora, como também os das camadas populares, visto que no momento em que o Brasil se encontrava, sua força eleitoral era implacável.
Momento este, caracterizado pela alta dívida externa deixada por Kubitschek durante o maior progresso econômico pelo qual o Brasil passou, além da concentração de renda e inflações decorrentes de suas grandes obras públicas que exigiam grande emissão de papel moeda.
No começo de seu mandato, em 31 de janeiro de 1961, eleito pela UND (União Nacionalista Democrática), Jânio iniciou reformas que não foram bem aceitas pela população. As medidas financeiras e administrativas tomadas pelo presidente fizeram com que o custo de vida aumentasse e, paralelamente, congelou salários e restringiu créditos bancários.
 Atitudes como a proibição do uso de biquínis nas praias, corridas de cavalo e rinhas de galo fizeram com que, gradativamente, sua popularidade caísse. Além disso, perdeu o apoio dos conversadores e dos progressistas devido as sua política internas e externas contraditórias. Ao mesmo tempo que, internamente, Jânio beneficiou o capitalismo, externamente ele estabeleceu alianças com países de cunho socialista.


Numa tentativa de manobra política para recuperar sua popularidade, Jânio Quadros teve o seguinte raciocínio: se mandasse seu vice, João Goulart, à China este seria considerado socialista e, portanto, não seria aceito como substituto na presidência. A junção desses fatos levou o presidente à renúncia no dia 25 de agosto de 1961. Ele acreditou que tanto os militares, quanto a opinião pública pediriam seu retorno, coisa que só acetaria caso lhe oferecessem plenos poderes. A tentativa foi um fracasso e João Goulart assumiu o poder já sob a vulnerabilidade de ser deposto.
Nicolau Maquiavel, importante historiador, diplomata e filósofo, escreveu uma renomada obra considerada como o manual dos governantes, intitulada “O Príncipe”. Nessa obra, Maquiavel diz que mesmo tendo que usar força militar e fazer inimigos o mais importante é manter o poder absoluto. Segundo ele, a prática da política exigia virtù que permite o alcance da fortuna. Fortuna diz respeito às circunstâncias que aparecem para um indivíduo, sendo elas externas homem. Por sua vez, virtù é a capacidade de um individuo de controlar as situações e acontecimentos.
No caso de Jânio Quadros, a fortuna estava ao seu lado uma vez que ele, utilizando sua virtude, foi eleito com grande aceitação popular. Através de políticas que agradassem as camadas populares, como o slogan de propaganda “varrer a corrupção” e ainda, para mostrar-se uma figura do povo, comia pão com mortadela publicamente e jogava pó sobre os ombros simulando caspa. Porém isso foi um erro na visão de Maquiavel, pois um bom líder não demonstra humildade na conquista do povo.
Outro ponto a ressaltar no governo de Jânio foi a sua incapacidade de se manter no cargo por meio da “manutenção de conquista”. Esta, segundo Maquiavel, é a resistência por parte do governante a todas as ações provenientes dos seus inimigos. Ele deve garantir a glória de sua gestão e a segurança de seus governados, atraindo a fortuna para si.
Outro conceito abordado em “O Príncipe” é a justificação dos fins pelos meios. Relacionando tal tese com as ações de Jânio, percebemos que, no seu ponto de vista, a tentativa de renúncia se justificaria quando o povo clamasse por sua volta. O que claramente foi o maior equívoco de seu curto e incompetente mandato.
Maquiavel diz que os governantes inconstantes, levianos, fracos e sem firmeza em suas ações, tornam-se desprezados. Jânio cometeu exatamente esses erros, uma vez que seu governo foi contraditório, e sua renuncia um ato extremante impulsivo. Enquanto isso, para ser estimado, Maquiavel sugere que o Príncipe se torne ou um verdadeiro inimigo, ou um verdadeiro amigo, mas nunca neutro. O presidente, na tentativa de agradar tanto conservadores quanto os progressistas, cometeu esse grave e crucial erro.
Portanto, concluímos que o boêmio Jânio Quadros esboçou uma breve atitude virtuosa, pois conseguiu chegar ao poder com grande apoio popular. Porém, no decorrer do seu mandato, não demonstrou mais essa capacidade de manter o controle do poder conforme as ideologias de Maquiavel.




3 comentários:

  1. Jânio Quadros foi sem dúvida um dos melhores exemplos de como não se comportar ao assumir o poder. Seu governo foi marcado por 7 meses de ações bastante questionáveis, citadas no texto, e ao longo do mandato perdeu força política. Segundo as ideias de Maquiavel, um príncipe (governante) não precisa ter qualidades, mas sim deixar parecer ao povo que tem. No ínicio Jãnio até tinha certo prestígio, porém perdeu a confiança do povo. Outro pensamento do filósofo diz que o governante deve manter-se alerta com todos, já que qualquer indivíduo é corruptível, desta maneira quando renunciou ao cargo, com o pensamento de ocorrer algo semelhante a Vargas e fortalecer seu poder, ao invés de "varrer a corrupção" foi "varrido" por tentar ser amado e não temido.

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  3. Jânio Quadros não agiu como Maquiavel espera que os governantes ajam para terem sucesso. Ele conquistou todas as camadas sociais, sendo amado e não temido. Maquiavel diz que é preferível que o governante seja temido do que amado. Outro fato do governo de Quadros que reflete o pensamento de Maquiavel é que “E os que têm pouco trabalho para chegarem à condição de Príncipes se mantêm com dificuldade.” Maquiavel diz ainda que o governante deve sempre procurar ser odiado pelo seu povo e Quadros não fez isso. Se Jânio Quadros tivesse agido conforme a obra O príncipe talvez tivesse sido mais bem-sucedido em seu governo.

    Barbara Ramalho de Oliveira
    RA00134276

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